Quem não lembra o programa que acabou de enterrar a educação do Maranhão, há alguns anos, no governo do mesmo grupo que administra o Estado hoje? Esse programa entregou o ensino médio à fundação Roberto Marinho implantado Telessalas onde deveriam ter professores concursados.
Estamos diante de absurdo semelhante, mas agora o alvo é outro, apesar de os personagens e os objetivos serem os mesmos.
A Secretaria de Saúde do Estado do Maranhão, na pessoa de seu secretário, vem demonstrando que de saúde não entende nada ou é tão mal intencionado que não deixa mais o objetivo de fazer a coisa errada escondido por trás de justificativa alguma.
O que chamo de Telessalas da saúde são os tais 64 “hospitais” do secretário que devem custar 340 milhões de reais e na verdade nem hospitais serão; no máximo poderiam ser classificados como unidades mistas.
Não há preocupação sequer de rever a legislação para saber se uma unidade, do tamanho das propostas, pode ou não ser enquadrada como hospital.
Quem conhece saúde sabe que investir em “hospitais” é a maior das demonstrações de ignorância sobre Sistema Único de Saúde que um gestor pode demonstrar.
Na verdade se o senhor Secretário e seus assessores entendessem de saúde saberiam que os leitos que se encontram desativados no interior do Estado - e só para citar temos Grajaú, Barreirinhas e Cachoeira Grande que possuem três excelentes hospitais desativados - são suficientes para atender à demanda das regiões em que se encontram.
Investir em “hospitais” é negar a própria história de construção do SUS. Ir contra a luta para diminuir as internações em função do incremento da Atenção Básica à Saúde.
Um paciente que chega a qualquer hospital com agravos provocados pelo diabetes, por exemplo, se fosse devidamente acompanhado desde o inicio por uma equipe do PSF provavelmente não chegaria a esse ponto e não precisaria de internação. O mesmo se pode dizer de hipertensos, tuberculosos, hansenianos, e aí por diante.
Quem entende de saúde investe em Atenção Básica e isso já é feito em outros Estados, inclusive do Nordeste, como é o caso do Ceará, que foi um dos pioneiros nesse sentido e hoje, depois de mais de vinte anos, colhe os frutos da organização e da boa fé de seus administradores.
Não é difícil prevêr o destino dos tais 64 “hospitais”, pois quem irá mantê-los após as inaugurações? Quem vai bancar os profissionais necessários aos seus funcionamentos? Quem vai adquirir ambulância para o deslocamento dos pacientes quando os casos não forem resolvidos? Os laboratórios privados que estão no “esquema” aqui em São Luis irão para o interior?
O prefeito que tivesse um mínimo de responsabilidade não aceitaria a instalação de um desses “hospitais”.
O destino deles é, irremediavelmente, fechar deixando o prejuízo para o povo maranhense. Tal qual as Telessalas, o efeito, desses 64”hospitais” vai ser catastrófico, com um agravante: enquanto as Telessalas fabricaram milhares de analfabetos funcionais, os 64 “hospitais” fabricarão milhares de inválidos e defuntos.
(Dr. Marcelo Rosa - Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado do Maranhão)