A produção de biodiesel no país é quase toda feita apartir de dois produtos agrícolas: soja e gordura animal.
Matérias-primas do biodiesel
O sebo bovino, quase sempre produzido por grandes frigoríficos, é a segunda principal fonte do produto "ambientalmente correto", segundo relatório divulgado pela Organização Não Governamental Repórter Brasil.
Em junho de 2009, o sebo de boi respondeu por 14,03% das matérias-primas do agrocombustível. Os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo) mostram, ao mesmo tempo, uma grande variação mensal no uso de matérias-primas para a produção de biodiesel - mas, na soma, soja e sebo de boi respondem pela parte realmente significativa da produção. O algodão, o terceiro colocado, respondeu por cerca de 2,97% da produção em junho, segundo a mais recente atualização do dado.
"O percentual de sebo bovino utilizado na produção de biodiesel variou entre 10,70% e 24,54%, mas a gordura animal manteve-se em todo o período em segundo lugar no ranking de matérias-primas mais usadas", explica o relatório "O Brasil dos Agrocombustíveis: Impactos das Lavouras sobre a Terra, o Meio e a Sociedade".
A situação é problemática porque o gado é considerado o principal motor do desmatamento da Amazônia. Segundo a Repórter Brasil, dados levantados pelo pesquisador Bernardo Strassburg, da Universidade de East Anglia, indicam que "69% do desmatamento na Amazônia entre 1997 e 2006 ocorreu devido à atividade pecuária".
Divisão do rebanho entre as regiões
Ou seja, a ideia do biodiesel como "combustível limpo", pelo fato de retirar da atmosfera o carbono que seria queimado para gerar energia, pode esconder o fato de que ele pode estar associado à avanços no desmatamento.
"É óbvio que ninguém vai criar gado em grande escala para produzir biodiesel. Mas o biodiesel passou a fazer parte dos subprodutos do gado. Se a pecuária desmata, ele é co-responsável pelo desmatamento", afirma a jornalista Verena Glass, uma das autoras do levantamento.
A variação entre soja e sebo de boi como principal matéria-prima do biodiesel está ligada à variação do preço da soja no mercado internacional. Quando o preço da soja sobe, aumenta o uso do sebo bovino.
O sebo bovino é também bastante usado pela indústria de cosméticos, para a produção de sabões e sabonetes. Em 2007, 61% do sebo de bois, porcos e aves abatidos no Brasil eram vendidos para o setor de higiene e limpeza, 13% para a indústria oleoquímica e 12% para usinas de biodiesel. Nas usinas de biodiesel, no entanto, o sebo utilizado é praticamente todo de origem bovina.
Desde julho, o diesel vendido no Brasil deve, obrigatoriamente, conter 4% de biodiesel na mistura. O percentual chegará a 5%. Frigoríficos instalados em municípios líderes em desmatamento na Amazônia
Fonte: Amigos da Terra Amazônia Brasileira/Repórter Brasil
"A gordura animal é dificilmente associada pela opinião pública à produção de biodiesel", diz a Repórter Brasil. "O governo federal, tanto nos discursos do presidente Lula quanto no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNBC), tampouco costuma dar visibilidade à gordura animal, preferindo destacar oleaginosas vistas como estratégicas para a agricultura familiar", como girassol, dendê ou o pinhão manso.
Essas "matérias-primas sociais", em geral produzidas por pequenos agricultores, no entanto respondem por menos de 2% da produção de biodiesel.
O sebo bovino foi excluído pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário das regras do Selo Combustível Social, que dá direito a algumas vantagens nos leilões de combustível da Agência Nacional do Petróleo e a reduções tributárias, porque, normalmente, ele é produzido por grandes empresas - apesar de a criação de gado ser praticado por grandes, médios e pequenos proprietários no país.
do UOL Notícias
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