quarta-feira, 23 de maio de 2018

OPINIÃO | Não era por dez centavos… era por quê?

Todos lembram as manifestações populares, as maiores após a redemocratização do país, em junho de 2013. O Brasil estava com índices razoáveis de desemprego, inflação relativamente controlada e serviços públicos em expansão, há pelo menos uma década. Subitamente a população foi às ruas protestar. A começar de São Paulo, onde houvera aumento de dez centavos nas passagens de ônibus. Como uma avalanche impulsionada pelas redes sociais, especialmente o Facebook, o país foi às ruas. Um movimento gigantesco, teoricamente apartidário, cuja pauta era etérea. “Não é por dez centavos!”, “Vem pra rua!”. Entoavam líderes das manifestações.
A mídia tradicional tratou de garantir repercussão e a glamourização dos movimentos Brasil a dentro. Até multinacional encomendou música sob medida para anúncio em horário nobre numa convocação im(ex)plícita: “Vem pra rua!”. As manifestações lograram certo êxito. O governo Dilma ampliou investimentos em serviços públicos, notadamente para a mobilidade urbana. O movimento arrefeceu até as eleições de 2014. A reeleição da presidenta Dilma foi a senha para começar nova onda de manifestações contra reajuste de combustíveis, aumento da inflação, corrupção. A grande mídia insuflou em certa medida os protestos, desta feita, com convocações sem rodeio nos intervalos de novela em horário nobre, transmissões ao vivo dos protestos, nos domingos.
Todo este movimento culminou com a derrubada da presidenta Dilma, num golpe parlamentar com o auxílio jurídico midiático. Pois bem, venderam para a população que os problemas do país seriam resolvidos. A estabilidade econômica, política e institucional seria garantida.
Passaram-se dois anos do golpe. Nada melhorou na vida da maioria dos brasileiros. Ao contrário, os preços de combustíveis passaram a ser reajustados com impressionante velocidade e atingem os maiores níveis ultrapassando R$ 5 em estados como o Rio de Janeiro. Mais de 27 milhões de brasileiros estão desempregados. Quase três vezes mais do que no governo Dilma. Os investimentos em serviços públicos, como saúde e educação, foram garroteados e ficarão congelados por 20 anos. Na prática, serão reduzidos os recursos para dois setores vitais para o país. Ataques também às políticas habitacional e de transferência de renda.
As riquezas do país colocadas à venda por preços risíveis em privatizações duvidosas de setores estratégicos para o país, como o sistema elétrico, o pré-sal e programas aeroespaciais.
Tudo isto acontecendo e nenhuma panela a fazer barulho. Evidente está que realmente nunca foi por dez centavos. Também não foi pra combater a corrupção, pois esta se instalou no Palácio do Planalto, onde nos dizeres do ex-procurador Geral da República Rodrigo Janot se instalou uma organização criminosa para comandar o país. Nem as malas abarrotadas com milhões de reais parecem despertar a população, que a tudo assiste impavidamente.
Mas, se não era por dez centavos, nem contra o desemprego e a corrupção, o que justificaria as tais manifestações iniciadas em junho de 2013, como e para onde se dissipou toda aquela energia mobilizadora? Talvez daqui a 50 anos documentos da CIA possam revelar aquilo que, de fato, levou as multidões para as ruas do país.
Radialista, jornalista. Secretário adjunto de Comunicação Social e diretor-geral da Nova 1290 Timbira AM.

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