Por Viviane Machado e Victoria
Varejão, G1 ES
A Polícia Civil concluiu que o pastor
George Alves matou o próprio filho, Joaquim Alves Salles de 3 anos, e o enteado
Kauã Salles Butkovsky de 6 anos. O resultado do inquérito policial foi
divulgado nesta quarta-feira (23). A perícia aponta que o acusado estuprou as
crianças, agrediu e colocou fogo nelas ainda vivas.
O crime aconteceu em Linhares, na região
Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril. Inicialmente, o pastor George
Alves, que estava sozinho em casa com os meninos, disse que eles morreram em um
incêndio que atingiu apenas o quarto onde as vítimas dormiam. Na primeira
entrevista à imprensa, ele chorou e disse que tentou salvar as crianças. Mas,
segundo a polícia, a versão dele não estava de acordo com os fatos apurados
durante as investigações.
A mãe, de acordo com o inquérito, não
tem participação no crime e não é investigada. Ela foi procurada pela
reportagem, mas não quer se manifestar neste momento. No dia do crime, Juliana
Salles estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal.
Nesta quarta-feira, ela está em Linhares e não fala com a imprensa.
O acusado está preso temporariamente
desde o dia 28 de abril porque mudou o local do crime e fez contato com
testemunhas, segundo a polícia. A Justiça decidiu, na noite desta terça-feira
(23), prorrogar a detenção por mais 30 dias.
Ele foi indiciado por duplo homicídio
triplamente qualificado e duplo estupro de vulneráveis. A soma máxima das penas
pode chegar a 126 anos. A polícia disse que o inquérito vai ser encaminhado à
Justiça na próxima semana.
Abuso
sexual e morte
O delegado André Jaretta, de Linhares,
disse que um "conjunto de indícios demonstra que, naquela madrugada, o investigado,
inicialmente, molestou as duas crianças, tanto o filho biológico Joaquim quanto
o enteado Kauã, mantendo um ato libidinoso".
Polícia conclui que pastor molestou o
filho e o enteado antes de matá-los no ES
Jaretta contou que para ocultar o ato sexual,
comprovado pela perícia, George agrediu as crianças. Essa agressão também foi
confirmada pelos vestígios de sangue no banheiro. O exame de DNA atestou que o
material era de Joaquim.
"Com as duas vítimas ainda vivas,
porém desacordadas, o investigado as levou até o quarto, as colocou na cama e
ateou fogo nas crianças, fazendo com que elas fossem mortas com o calor do
fogo", explicou Jaretta.
O delegado disse ainda que os meninos
morreram pela carbonização. “Isso tudo é comprovado pelo exame pericial. As
crianças continham fuligem na traqueia e o exame demonstrou que elas ainda
respiravam quando começou o incêndio”, afirmou.
Choro
dois dias depois do incêndio e disse que 'mundo precisa de Deus'
Na primeira entrevista concedida à
imprensa, no dia 23 de abril, após o incêndio que matou os irmãos Joaquim Alves
Salles, de 3 anos, e Kauã Salles Butkovsky, de 6, o pastor George Alves chorou
e contou que tentou salvar as crianças pelo menos três vezes. Ele também disse
que a família estava se apegando à fé para enfrentar a perda e que o mundo
precisava mais de Deus.
O crime aconteceu em Linhares, na região
Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril. Inicialmente, o pastor George
Alves, que estava sozinho em casa com os meninos, disse que eles morreram em um
incêndio que atingiu apenas o quarto onde as vítimas dormiam.
Dois dias após o incêndio, ele e a mãe
das crianças foram o Departamento Médico Legal de Vitória colher material para
exame de DNA. Na ocasião, ele falou pela primeira vez com a imprensa.
George ficou o tempo todo de óculos
escuros e deu sua versão sobre a noite em que os filhos morreram.
Ao lado da esposa, ele chorou e disse
que tentou salvar as crianças. “Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá
eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande [através da babá
eletrônica], corri desesperado, e a casa já não tinha energia. Eu empurrei a
porta do quarto deles, que estava entreaberta, eu só havia encostado por causa
do ar condicionado, entrei. Quando entrei, escutei os choros deles, a gritaria,
eles gritando ‘pai, pai’. Pus a mão na cama, queimei as mãos, não consegui
pegar”, lembrou George.
Ele também disse que teve queimaduras ao
tentar tirar as crianças do cômodo. “Eles se abraçaram, eu não consegui, o fogo
estava muito quente, queimei meus pés, minhas mãos. Eu saí, estava só de cueca,
gritando. Comecei a desesperar, duas pessoas vieram e me tiraram da casa, eu
tentei uma três vezes entrar para salvar mas já não ouvia mais a voz deles”,
lamentou o pastor.
Ainda naquele dia, George disse que a
família estava se apegando à fé para enfrentar a perda e que o mundo precisava
de Deus.
“Eu tenho plena certeza e convicção de
que é Deus que está nos segurando, nos mantendo firme. Creio que há um
propósito eterno em relação a tudo isso. Não há nada que me faça parar agora,
entrar num quarto, entrar em depressão porque eu creio que o mundo precisa de
Deus”, disse George.
Coronel
contesta versão
A versão dada pelo pastor na primeira
entrevista foi contestada pelo comandante do 2º Batalhão e perito do incêndio,
o tenente coronel Ferrari, do Corpo de Bombeiros.
Segundo ele, se as crianças estivessem
acordadas durante o incêndio, como George afirmou, elas provavelmente teriam
tentado fugir.
"Se as crianças estavam gritando
‘papai, papai’, por que elas iam estar embaixo de onde estava pegando fogo de
forma mais intensa? É comum as vítimas fugirem do foco de incêndio e se
perderem no processo”, disse.
O relato de George, de que teria
tentando salvar os meninos e se queimado nas mãos e nos pés, também foi
contestado pelo perito.
“Ele falou que colocou as mãos na cama.
Se o fogo passou do ar-condicionado para a cama e a cama estava queimando, como
ele colocou as mãos na cama? E a mão dele não tinha nenhuma queimadura. [...]
Ele já tinha raspado o cabelo, possivelmente para esconder que o cabelo não
havia sido queimado. Mas ele não tinha nenhuma queimadura no rosto, barba
farta”, completou o tenente coronel Ferrari.
A postura do pastor também chamou a
atenção das autoridades envolvidas na investigação. “Eu precisava remontar como
era o cômodo antes de queimar e eu fui buscar amigos e parentes que pudessem me
dizer o que tinha no quarto. Para minha surpresa, ele apareceu lá dois dias
depois voluntariamente para dizer o que tinha no cômodo. Isso me estranhou”,
falou.
No dia seguinte ao crime bárbaro, o pastor George Alves foi à igreja e conduziu o culto normalmente. Em seguida, aparentando tranquilidade, concedeu uma entrevista. Ele finaliza dizendo que, se for da vontade de Deus, vai reconstruir a família possivelmente adotando crianças. Confira.
No dia seguinte ao crime bárbaro, o pastor George Alves foi à igreja e conduziu o culto normalmente. Em seguida, aparentando tranquilidade, concedeu uma entrevista. Ele finaliza dizendo que, se for da vontade de Deus, vai reconstruir a família possivelmente adotando crianças. Confira.
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