Carlos Lula, Secretário de Saúde do Estado |
O Dezembro Vermelho é uma das campanhas do calendário da saúde com menor engajamento social. O alerta está ofuscado pelo mês mais comercial do ano. A mobilização é menos atraente que as festas e compras de fim de ano. Além disso, a falta de sensibilização constrói um caminho perigoso para conter o aumento do número de pessoas com diagnóstico positivo para HIV.
No início da década de 1980, os veículos de comunicação traziam manchetes sensacionalistas acerca da epidemia da Aids. Contra a paranoia sexual desencadeada pela mídia, Marcelo Secron Bessa, no livro “Os perigosos: autobiografias & AIDS”, escreveu: “O que é que se faz quando aquilo que era possibilidade de prazer – o toque, o beijo, o mergulho no corpo alheio capaz de nos aliviar da sensação de finitude e incomunicabilidade – começa a se tornar possibilidade de horror? Quando amor vira risco de contaminação”.
A exploração de imagens de pessoas vivendo com a Aids – no tempo em que pesquisas sobre tratamento ainda engatinhavam – provocou também um preconceito, quase irremediável, com a pessoa com diagnóstico positivo para o vírus HIV. A capa do cantor Cazuza na capa da Revista Veja de 26 de abril de 1989, à beira da morte contribuiu para reforçar o comportamento repulsivo da sociedade.
Três décadas depois, o discurso conservador ainda fortalece os estereótipos em torno da doença – principalmente em torno dos homossexuais. No entanto, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz apresentou o resultado da pesquisa sobre o perfil dos soropositivos. Segundo o levantamento, 67,5% dos casos pertenciam ao grupo de heterossexuais.
Em 2005, o Maranhão notificou 684 novos casos de Aids. Passados 10 anos, o diagnóstico positivo alcançou 1.512 pessoas. A descentralização dos testes rápidos para as 19 Regionais de Saúde do Estado favoreceram a detecção, mesmo diante do aumento do número de casos, mas ainda há resistência e medo em se submeter ao exame.
Outro importante aspecto desse levantamento aponta que a doença atinge uma parcela cada vez mais jovem da sociedade. Se na década de 1980, as mortes em decorrência da Aids afugentaram jovens do sexo; no século 21, os medicamentos se encarregaram de trazer mais qualidade de vida e longevidade aos soropositivos, e, assim despreocupação com a prevenção – isto é, uso de preservativos em toda relação sexual e testes rápidos de rotina.
Precisamos superar o medo, o preconceito e, agora, o desleixo. Este ano, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) apresentou, na abertura da Campanha do Dezembro Vermelho, uma mandala para representar o uso combinado de intervenções biomédicas, comportamentais e estruturais aplicadas no nível individual, grupos sociais e das instituições de saúde para interromper a contaminação pelo vírus – denominada de prevenção combinada.
Os maranhenses contam com uma rede de atendimento especializado distribuídos por 20 unidades de saúde, incluindo o Hospital Presidente Vargas da rede estadual de saúde, para tratamento de pessoas vivendo com HIV. Como estímulo à prevenção e diagnóstico, as unidades básicas de saúde ofertam insumos de prevenção – preservativos e lubrificantes, distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde – e testagem rápida.
Nem jingle bells nem o piscar das luzes da cidade devem ofuscar o alerta sobre o vírus HIV. Como diz o tema deste ano, “A Aids não aceita desculpas. Tem Prevenção. Tem Tratamento”. Dezembro Vermelho é uma campanha para salvar vidas!
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