segunda-feira, 4 de julho de 2016

Em artigo, Ney Bello critica geração que viveu às custas das oligarquias no Maranhão




O desembargador Ney Bello fez uma importante análise da geração que viveu às custas da farra do dinheiro público que dominou o Maranhão nas últimas décadas. Em artigo publicado neste domingo (3), ele ressaltou que parte da sua geração “se vê dependente de uma mesada pública, de um cargo de empréstimo, de um salário de dádiva”.

Tais facilidades alcançadas nos últimos anos devido à esquemas de corrupção, fez com que várias famílias fossem alçadas à “elite”, termo que se reconstituiu no Maranhão da bandalheira, ficando bem longe da bem aventurança nos negócios privados ou da construção de conhecimento acumulado às custas de estudo, leitura, discussão e raciocínio.

“Vejo um conjunto de sobrenomes que não se afirmou intelectualmente, não estudou o bastante, não adquiriu cultura diferenciada, não foi bem sucedido empresarialmente e, agora, não tem condições de sustentar seu modo de vida, sozinho”, pontuou no artigo.

Para ele, essa geração sanguessuga não passa de uma moribunda aristocracia das dependências estruturais, e relata que “é preciso que as gerações que estão por vir entendam que não são piores ou melhores do que ninguém. Pobres e ricos, homens e mulheres somos todos iguais”.

O recado dado pelo desembargador Ney Bello aos dependentes da oligarquia Sarney, sobretudo, se concretizou na última parte do artigo, quando ele faz a seguinte reflexão: “Precisamos de uma geração que avance para o mundo, não de uma geração que reze por uma licitação fraudada, uma assessoria gratuita ou um salário na EMAP”.

De fato, a geração “construída” às custas da farra do dinheiro público no Maranhão ao longo das últimas décadas, deixou uma geração da “elite” baseada na máxima vitorinista: “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores dos concursos e das licitações”.

É por isso que a tal “elite” anda tão incomodada com o Maranhão que se reconstrói em um Estado feito para todos.

Confira a íntegra de UM POUCO DE LUCIDEZ, de Ney Bello:

O atual momento pelo qual passa o Maranhão suscita questões de toda ordem. Uma das que mais me chama atenção – não sem muita tristeza – é o status das vidas privadas dependentes do espaço público. Parte da minha geração se vê dependente de uma mesada pública, de um cargo de empréstimo, de um salário de dádiva. A palavra elite ficou longe da bem aventurança nos negócios privados ou da construção de conhecimento acumulado às custas de estudo, leitura, discussão e raciocínio. Vejo um conjunto de sobrenomes que não se afirmou intelectualmente, não estudou o bastante, não adquiriu cultura diferenciada, não foi bem sucedido empresarialmente e, agora, não tem condições de sustentar seu modo de vida, sozinho. Porém, a rotina lhe afirma o título de elite a partir do sobrenome e dos acesso a cargos públicos. Retiro da análise o item coluna social porque a internet desconstruiu qualquer Ibraim Sued, ludovicense ou tupiniquim.

O país é República desde 1889, mas nosso espírito ainda é da aristocracia, e pessoas que queremos bem e por quem temos ânsias e ganas de ajudar e colaborar cresceram na dependência dos negócios públicos, quer ganhando empregos sem concurso e sem formação suficiente, quer sendo beneficiárias de negócios privados. – obviamente construídos com o objetivo de sustentar uns poucos.

Estas perplexidades de infinitas grandezas, descambam das prateleiras escondidas, abandonam as suas condições de absurdos e demonstram que a nossa sociedade tem vícios torpes. Elas se tornaram tão comuns que a ausência desse protecionismo gera ofensa, tristeza e mágoa em alguns que não entendem que Duques, Barões e Marqueses já não mais existem.

Não há muito o que fazer com aqueles homens e mulheres das gerações que chegaram até a minha e que representam a moribunda aristocracia das dependências estruturais. Mas há muito a fazer com as gerações futuras.

Que tal sermos menos coniventes com o ócio de nossos filhos? Com a falta de estudo? Com os mimos tolos? Com as fofices e extravagâncias? Que tal lembrarmos que há o certo e o errado, e o errado não virou o certo só por que os nossos estão errando?

Talvez seja pedagógico dizermos sempre que depende deles se acaso serão importantes cientistas, empresários ou filósofos, ou humildes vendedores de cachorro-quente, porque só o esforço deles constrói!

O maior legado da minha geração para a dos meus filhos talvez devesse ser lhes fazer pensar sobre o mundo. Mostrar que é necessário duvidar, criticar, analisar, discutir e agir sabendo o porquê das coisas, e com base nas suas próprias opiniões.

É preciso que as gerações que estão por vir entendam que não são piores ou melhores do que ninguém. Pobres e ricos, homens e mulheres somos todos iguais.

Não sairemos da aristocracia com padrões subsaarianos se não mergulharmos na meritocracia, no fim do jeitinho, no abandono da dependência estatal e dos muitos favores. Precisamos chegar na república com igualdade de pontos de partida e na regra da não proteção, para além da lei. O vitorinismo segue nos fazendo mal com a máxima adaptável: “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores dos concursos e das licitações”!

Precisamos de uma geração que avance para o mundo, não de uma geração que reze por uma licitação fraudada, uma assessoria gratuita ou um salário na EMAP.

O Imparcial. 03/07/2016

Ney Bello. Pós Doutor. Membro da AML. Desembargador Federal.⁠⁠⁠⁠

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