segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Zé Reinaldo Afirma em entrevista o que todos já sabiam e sentiam

Em seu segundo mandato como deputado federal, o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB) falou em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno sobre as suas preocupações e expectativas com os rumos do Brasil e do Maranhão neste ano .Afirmou que o governador Flávio Dino (PCdoB) faz uma grande gestão na área administrativa, mas comete erros na articulação com a classe política.
“Vejo com muita preocupação esse quadro político. Já o quadro administrativo tem muita qualidade”, declarou o parlamentar socialista. Sobre o governo Dilma Rousseff, o ex-governador defende que a presidenta deixe o governo e que o ano de 2016“será completamente perdido para o desenvolvimento do país”.
Sobre as eleições municipais falou das razões que levaram a apoiar o ex-prefeito João Castelo na última eleição em São Luís e porque agora apoia a pré-candidatura da deputada federal Eliziane Gama (rede) à prefeitura da Capital. “Não vejo outro candidato mais preparado do que a Eliziane Gama”. Na avaliação de Jose Reinaldo Tavares o atual prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior disse que a “gestão dele não é competente”.
Leia os principais trechos da entrevista:
Jornal Pequeno – O senhor está no exercício de seu segundo mandato como deputado federal, é verdade que existe uma ‘bancada do José Reinaldo’ dentro da bancada federal do Maranhão?
José Reinaldo Tavares – Não. Tenho trânsito com todos eles. Não tenho problema com ninguém. Eles me ouvem, são amigos. Agora, eu me ofereci para fazer um trabalho para o Flávio junto à bancada federal. Disse que eu poderia trazê-la toda para ele.
JP – Quando o Flávio Dino se elegeu deputado federal, o senhor era governador. O senhor hoje está na Câmara Federal e o Flávio Dino é o governador, qual é a sua avaliação do governo estadual?
José Reinaldo – Vejo o governo Flávio Dino de duas maneiras. Uma parte administrativa e outra política. A meu ver ele faz um grande governo, para um governador que está no primeiro ano. Ele tem muita realização, a mudança de governo foi muito forte. Isso conta muito ponto para ele.
JP – E na política?
José Reinaldo – Nessa parte o governo tem pecado demais, não tem tido solidariedade com alguns companheiros. Tem privilegiado muito o PCdoB, na ocupação dos cargos no interior. E com isso há uma insatisfação grande em relação ao governo na área política. Ele tem que renovar a articulação política.
JP – Mas há uma insatisfação por conta da articulação dos palanques para a eleição municipal deste ano. O PCdoB, por exemplo, tem ido buscar quadros em outros partidos?
José Reinaldo – Não acho errado irmos buscar uma pessoa, um candidato no PDT, PSB, PSDB, no PT. Não é isso. Acho errado é pegar uma pessoa, que tem um patamar de vereador e coloca-la como uma grande liderança. Em cima de lideranças já consolidadas. Então isso é brincar com fogo.
JP – Como assim, brincar com fogo?
José Reinaldo – Não vejo a política do Maranhão pacificada. Eu acho que o grupo Sarney tem consciência de que não ganha mais uma eleição sozinhos. Mas, eles sabem fazer política. Tem uma estrutura montada para fazer política. Se generalizar essas insatisfações, essas defecções isso cria um campo perigoso. Na área Federal vejo que o governo estadual tem muita dificuldade na bancada. O Flávio se omitiu no debate dos cargos federais. Os cargos federais foram todos indicados pelo Sarney. Então a turma até brinca, nós perdemos a eleição e estamos melhores do que vocês. Perdeu, ganhando. Essa coisa é um problema.
JP – Da base de sustentação do Flávio Dino pode sair um adversário num futuro próximo?
José Reinaldo – Acho que pode. Você tem uma máquina e tem uma porção de gente insatisfeita. Eu não digo que ele vá ajudar. Mas, você tem que ter relações de confiança, de amizade. Eu sei como isso é importante, porque criei isso no meu governo. A eleição municipal é muito importante. O governo não está atento para isso. É como se tivesse a formação de um tsunami e ninguém estivesse olhando. Prefeitos importantes, que querem conversar com o Flávio e não são recebidos. O pessoal do Sarney sabe fazer eleição. Eles têm condições de montar um grupo forte se tiver estrutura. Quando não se não tem nada, chega outra coisa.
JP – O que seria uma vitória do Governo nas eleições municipais?
José Reinaldo – O Flávio Dino deve fazer força para ganhar nos 20 maiores municípios. Ele devia ter um olhar diferenciado para esses municípios. Acho que é correr um risco desnecessário para o governo. O governo ainda não se consolidou. Não definiu os rumos na área política. O governo tem que trabalhar para não ter uma manchete, “O governo perde eleição nas 20 maiores cidades”, para não causar um ambiente de procurar uma opção, outra alternativa. Eu vejo com muita preocupação esse quadro político.
JP – Há riscos da base do Governo perder a eleição nos maiores municípios?
José Reinaldo – Arriscamos perder eleição em Timon e Caxias, por exemplo. Lá as coisas não estão boas. Em Imperatriz se não tiver uma coordenação acaba o Hildon Marques ganhando. Em Timon o Luciano Leitoa é uma boa liderança. Ele está entrando num ano complicado. Terá uma eleição difícil em Timon. O governo está errando muito em relação a Timon. O deputado Alexandre Almeida ainda tem todos os cargos na área da Saúde. Então fica um negócio complicado. Eu tenho muito preocupação com essa eleição municipal.
JP – E a eleição em São Luís?
José Reinaldo – Acho que o governo do Edivaldo Holanda Júnior não é competente.  Eu vejo o prefeito com muita dificuldade. O Flávio Dino tem ajudado muito. Acho que ele cresceu um pouco, mas a rejeição continua muito alta. Vejo a Eliziane Gama com um campo vasto para ganhar a eleição. Se ela tiver projetos e estão sendo construídos. Ela se torna uma candidata muito competitiva. Se eleita, acho que ela pode fazer um governo como nunca antes nós vimos em São Luís.
JP – Em entrevista ao JP, a Eliziane Gama fez muitos elogios ao senhor pela sua contribuição na pré-campanha dela?
José Reinaldo – São Luís está muito ruim. Eu chamei a doutora Ana Lúcia Gazzola, ex-reitora da UFMG, duas vezes secretária de Educação de Minas Gerais, ela fez um trabalho extraordinário, e tivemos com ela uma reunião muito proveitosa. O Antonio Anastasia foi que indicou a Ana Lucia Gazzola. O senador José Serra indicou o ex-secretário de Saúde de São Paulo, Januário Montone, nós já estivemos com ele. Nós estamos estudando. Ouvindo experiências e visões diferentes.
JP – Se não houvesse a pré-candidatura de Eliziane Gama?
José Reinaldo – Não vejo outro candidato preparado. A Eliziane Gama tem sensibilidade, Ela tem uma vida de sofrimento. Ela conhece essa parte social que é fundamental. Não vejo um governo ficar marcado por obras. Vejo governo ficar marcado por melhorar a Educação, por exemplo. A Eliziane tem uma grande vontade de mudar isso. Não vejo isso em outras pessoas. O prefeito Edivaldo Holanda Júnior podia ser essa pessoa, mas não é. Ele não persegue as coisas.
JP – Foi essa sua visão do Edivaldo Holanda Júnior que levou o senhor a apoiar o ex-prefeito João Castelo na última eleição?
José Reinaldo – No começo chamei a atenção do pessoal para esse rapaz. Depois eu vi que nós tínhamos muita dificuldade de conversar com Edivaldo. Aí eu vi o perigo do Castelo ir para o Sarney. Se eu não tivesse ido para o Castelo. Ele teria ido para o grupo Sarney.  Não há dúvida. E poderia ganhar a eleição com a estrutura que eles têm.
JP – O senhor tem focado muito na Educação. Num artigo recente no JP sobre o Ranking da Competividade dos estados, o senhor destacou os índices ruins da Educação no estado.
José Reinaldo – Vemos no ranking da competividade que estamos no final. O Maranhão não é competitivo. Se você não melhorar a educação no Maranhão, nós deixaremos de ser competitivos. Um dado que me chamou a atenção foi a “Educação para seu crescimento pessoal”, nós estamos em último lugar. A educação que é dada aqui no Maranhão não serve nem para você ascender socialmente. Esse é o grande problema.
JP – Em que áreas o Governo do Estado deveria focar?
José Reinaldo – A educação é a chave para melhorar qualquer indicador social. Correr atrás de indicador social, sem um trabalho estruturado na Educação não dará resultado consistente. O outro deveria ser mais forte na área da Saúde. Cobrança, exigir qualidade.
JP – No seu governo, o senhor defendia muito aumentar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado.
José Reinaldo – Você tem que melhorar a educação como um todo. Não adianta ter um colégio bom. Você tem que disseminar um padrão. Aqui 60% dos alunos que terminam o ensino fundamental não sabem interpretar um texto. Não sabem fazem uma conta mais complexa. Parto da premissa que tem dinheiro para a Educação e para a Saúde. O que não há é gestão. Agora, não há uma racionalidade, uma visão de cobrança. Não há uma visão gerencial.
JP – Como senhor vê a situação do país, qual sua avaliação deste ano?
José Reinaldo – Acho que a situação tende a se agravar. Melhorar, eu não acredito. Mesmo porque a presidente Dilma Rousseff não reconhece a calamidade que se instalou no país. Ela acredita numa crise temporária, coloca a culpa na situação externa. Ela não reconhece que houve erros enormes no primeiro governo dela, que levaram a essa situação. Houve uma gastança enorme, as pedaladas fiscais são uma prova eloquente disso. Teve bem mais do que isso, que acabou dando um déficit de mais de R$ 120 bilhões. Vejo 2016 como um ano completamente perdido para o desenvolvimento do país.
JP – Nesse cenário de crise qual a expectativa para os estados?
José Reinaldo – Quando eu tive aqueles problemas todos no meu governo, o rompimento com o grupo Sarney e tudo mais.  O presidente Lula me chamou para recompor com o Sarney, não aceitei pela maneira como ele colocou e daí sofremos um bloqueio aqui no estado.
Mas, nós naquela ocasião não tínhamos uma recessão, o Brasil estava crescendo, nós passamos a arrecadação de R$ 62 milhões por mês para R$ 280 milhões e aí me segurei. Respirei, no final tinha mais de R$ 1 bilhão de receita para investimentos. Os estados poderiam se recompor se não houvesse a recessão. Aqui no Maranhão as receitas se equilibraram um pouco porque, houve um aumento nos combustíveis e na energia e são muitos importantes para o equilíbrio financeiro do Estado. São base importante da arrecadação, então isso deu um equilíbrio. Mas, a situação dos estados é muito difícil.
Dos municípios então não se fala.
JP – O aumento da alíquota do ICMS de alguns produtos, como fez o governador Flávio Dino e o de São Paulo, Geraldo Alckmin ajuda a atenuar a crise?
José Reinaldo – Esse é um caminho que os Estados recorrem nas emergências. Eu acho que o governador Flávio Dino tem um secretário muito experiente na área da Fazenda. Ele tem feito um trabalho extraordinário, está tirando leite de pedra. A situação da atividade econômica caiu demais, a empresa Vale que tem aqui uma participação grande na formação do produto interno, está com um déficit gigantesco. A situação dos estados neste momento é de conter muito a despesa, porque senão, começa a atrasar pagamentos, e depois que atrasa vira uma bola de neve.
JP – O senhor é favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
José Reinaldo – O Supremo estabeleceu regras que beneficiaram muito aqueles que não querem o impeachment. Vamos supor que o impeachment não passe, a Dilma não tem 200 deputados na Câmara. O que ela vai fazer? Nós vamos sangrar durante três anos, pois ela não conseguirá aprovar nada. Estou muito preocupado com a situação brasileira porque eu acredito que para recompor, para recuperar o país teria que haver uma mudança.
JP – O senhor fica no PSB?
José Reinaldo – Se eu conseguir um partido do tamanho razoável aqui no Maranhão, pra compor uma base maior, desde que seja entregue a mim eu posso sair. O PSB está muito dividido aqui no Maranhão No Maranhão o partido está meio paradão. Tenho conversado muito com Luciano Leitoa, é meu amigo, gosto muito dele.
JP – Qual é o partido que senhor está indo?
José Reinaldo – (risos) Não, é prematuro falar. Eu não sei se dará certo. Vamos aguardar.
JP – O senhor seria de novo candidato a governador do Maranhão?
José Reinaldo – Não tenho mais essa vontade. Não tenho esse projeto mais. Com a experiência que eu tenho, quero ajudar. Posso ajudar muito. Mas, os governadores são muitos ciosos.

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