O grupo Sarney tem navegado em céu de brigadeiro, quando o assunto é a escolha do candidato para disputar o assento do Palácio dos Leões. Desde Luiz Rocha em 1982, quando as eleições diretas para governador de Estado retornaram à paisagem política, o senador José Sarney escolhe a dedo o seu indicado, cabendo aos aliados apenas dizerem amém.
Em 1986, Rocha não tolerava Cafeteira, mas teve que o “engolir”. Só houve um abalo mais forte em 1990, em face da deserção de Cafeteira (que na verdade nunca pertenceu a grupo algum) e do naufrágio das pretensões do deputado Sarney Filho. O chefe apontou o dedo para Lobão e disse “és tu”. E a paz se fez.
Lobão deixou o governo em 1994 e o grupo seguiu viajando em águas serenas, favorecido pelas seguidas eleições de Roseana Sarney que, pela liderança política e condição de herdeira natural do pai, foi sempre bem aceita por todos, sem qualquer contestação.
O sossego dos Sarney, porém, pode estar com os dias contatos. Diferentemente da quietude do passado, o ambiente agora sugere uma acirrada disputa. Pela primeira vez dois candidatos do grupo reúnem condições objetivas de lutar pela indicação. Não quer dizer que vá haver cisão. No grupo Sarney, salvo raras exceções, como a de Ricardo Murad, nos anos 90, eventuais divergências são resolvidas internamente, diante da figura do chefe.
Mas desta vez há sinais de confronto, envolvendo de um lado Edison Lobão, e do outro, Luís Fernando. Um tem a discreta simpatia do chefe; o outro, a aprovação da filha do chefe. Faz diferença? Faz, e muita.
Ambos estão absolutamente preparados para o exercício do cargo. De Lobão dispensa-se comentário. Foi governador de 91 a 94, realizando uma gestão, se não inovadora, pelo menos tranquila. De todos que ocuparam a cadeira do Palácio dos Leões é, sem dúvida, o político mais completo.
Como ministro das Minas e Energia, cargo que ocupou no segundo mandado do governo Lula e para o qual retornou no governo Dilma, executa um programa que é considerado um marco para a erradicação da miséria no país e alvo de elogios pelo mundo.
O programa “Luz para Todos” tem levado energia às áreas mais remotas do Brasil. No Maranhão estima-se que possibilitou cerca de 300 mil de novas ligações. Energia, como se sabe, é fator de progresso. Onde há luz há condições estruturais para uma vida melhor.
Mas nem tudo são flores no caminho do ministro. Há também espinhos. Ele escolheu o projeto da refinaria de Bacabeira como principal plataforma da sua campanha. Dele tornou-se fiador, apostou na sua concretização e perdeu, o que gerou uma frustração enorme, porque a refinaria, um sonho dos maranhenses, foi excluída do plano de investimentos da Petrobras. Hoje ninguém se arrisca a dizer se será retomada, e nem quando.
Outra dificuldade do ministro é de ordem pessoal. Em que pese a vitalidade que exibe, Lobão está beirando os 80 anos. Isso pode ser um complicador, levando-se em conta o longo tempo de permanência do grupo no poder e os sinais de fadiga perante o eleitor, que, em várias oportunidades, vem dando sinais de que deseja renovar.
E renovar é um verbo que o oponente de Lobão conjuga com desenvoltura. Luís Fernando tem como vitrine uma das gestões mais bem avaliadas do Maranhão, com ideias e projetos considerados pioneiros e copiados dentro e fora do estado. Sua passagem como prefeito de Ribamar é, sem dúvida, uma espécie de réplica do projeto que pretende implantar no estado.
Roseana, porém, quer que ele prove seus dotes de bom gestor ainda no atual governo. Não por acaso o deslocou para uma pasta com orçamento próprio e poder de realização. Na Casa Civil ele era muito mais articulador. Na Infraestrutura passa a formular e executar. Ganha assim mais visibilidade e penetração, inclusive junto aos chamados grotões, onde o grupo costuma assegurar a permanência no poder.
Sua exposição, neste caso, é tamanha que tem despertado o desconforto de Lobão. Há poucos dias a TV Difusora, de propriedade da família, exibiu reportagem mostrando falhas na saúde, administrada pelo Estado, o que provocou a reação irada do secretário Ricardo Murad. Em recente entrevista na mesma emissora, o filho Edinho criticou o excesso de mídia em torno de Luís Fernando. “Meu pai está preocupado neste momento é em tocar os projetos de sua pasta, e não com as eleições de 2014”.
O certo é que desta vez, o grupo Sarney não terá vida fácil na escolha do seu candidato. Será um processo marcado por um duelo interno, coisa que deve ser saudada como salutar, pois que promoverá a oxigenação de um tecido já marcado pela exaustão.
Disse, anteriormente, que Lobão tem o beneplácito do chefe do Clã e que Luís Fernando conta com a bênção de Roseana, e nisto reside o detalhe que pode fazer toda a diferença. Sarney tem ascendência sobre o grupo, é um exímio estrategista e possui o dom da clarividência, aquela faculdade que o permite enxergar além do olhar convencional. Só não tem poder de mando sobre Roseana. Isso ficou demonstrado na pré-campanha presidencial de 2002, quando quase implorou à filha para que não entrasse na disputa, e no rompimento de José Reinaldo, que ele tentou evitar e deu no que deu, situação que pode se repetir na sucessão de 2014. Mas desta vez quem há de censurar Roseana? Ela é a governadora. Cabe-lhe sentar na cabeceira da mesa.
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