quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CRÔNICA DE UM CHOQUE ANUNCIADO


Por Carlos Chagas




                                                                  O impasse segue seu curso, agora exposto em sua crueza depois dos pronunciamentos feitos no Congresso, pela reabertura dos trabalhos legislativos e pelo comentário do presidente  Joaquim Barbosa, sobre ser o Supremo Tribunal Federal, o único intérprete da Constituição. Antes, Marco Maia, que saía, Henrique Alves, que entrava,  além  de Renan Calheiros, enfatizaram que apenas Câmara e Senado detém o poder de cassar mandatos. Como pelo menos quatro deputados estão condenados a penas de prisão pela mais alta corte nacional de Justiça, aguarda-se apenas que as sentenças transitem em julgado para que se estabeleça o choque.
                                                                  Os novos comandantes do Congresso rejeitam a cassação automática dos quatro deputados e continuarão respeitando seus mandatos, pelo menos até que se reúnam o Conselho de Ética e o plenário da Câmara, para decidir. 
                                                                  Enquanto isso, porém, o que fará o Supremo Tribunal Federal? Será desmoralizado caso suas condenações sejam desrespeitadas. Apelará para o artigo 142 da Constituição, que estabelece destinarem-se as forças armadas  à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem? Mas não poderá o presidente do Congresso apelar para o mesmo dispositivo? Acresce, para complicar,  pertencer ao  presidente da República a autoridade suprema sobre as forças armadas. Quer dizer, no caso de tanto o Judiciário quanto o Legislativo solicitarem os serviços militares para o cumprimento de suas interpretações, que decisão tomará Dilma Rousseff? E se não tomar nenhuma?
                                                                  Delineia-se uma crise institucional, o que de pior poderia acontecer, com o agravante de que os generais poderão outra vez transformar-se em constitucionalistas, cabendo a eles optar sobre quem tem razão, se o Congresso ou o Supremo...
                                                                  Não parece fácil que, na iminência do choque, venham os presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo, por  coincidência, decidir dar um passeio pela Praça dos Três Poderes e, por mero acaso, encontrarem-se na porta do pequeno museu que mostra, em pedra, o rosto de Juscelino Kubitschek.  Seria uma boa inspiração para assegurar  a  paz.



OS POLÍTICOS E A ATIVIDADE POLÍTICA

                                                                  É bom seguir literalmente o que expôs a presidente Dilma em sua mensagem ao Congresso. Ela não escreveu que  os políticos tem sido vilipendiados,  mas a atividade política. A diferença é sensível, apesar da interpretação meio canhestra dada às suas palavras por alguns líderes parlamentares. As relações entre Executivo e Legislativo são institucionais, não pessoais.

QUEM REPRESENTA O POVO?

                                                                  Entusiasmou-se o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, ao sustentar serem apenas  os deputados que representam o povo, abençoados pela votação recebida nas urnas. A representatividade é elástica.   Estarão excluídos dela os presidentes da República, desde que escolhidos em eleições livres? O que dizer dos governadores e dos prefeitos?

MAIS CÂMARA, MENOS TV?

                                                                  Outra declaração de Henrique Eduardo a despertar no mínimo meditação, foi de que a TV-Câmara deve ser mais Câmara e menos TV.   Estaria cogitando de limitar as transmissões ao vivo dos trabalhos no plenário e nas comissões? Abrir câmeras e microfones às Assembléias Legislativas configura  excelente proposta, mas desde que não atropele a divulgação daquilo que de principal e mais importante acontece entre os deputados federais. No Supremo Tribunal federal já houve quem defendesse a censura à divulgação ao vivo de suas sessões. Felizmente, a proposta não pegou.

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