Não gostaria de inaugurar meu blog com um texto triste, mas a ocasião fez a opinião e quem precisa viajar de ferry-boat para a Baixada, ou mesmo para encurtar o caminho para o Pará, verá que não me faltam razões para repudiar publicamente o desumano tratamento que nos tem sido dado pelas duas empresas operadoras do serviço de transporte de passageiros e veículos entre o Porto da Espera, em São Luis, e o do Cujupe, no continente.
Há aproximadamente 6 (seis) meses, logo após me acomodar no interior do Cidade de Pinheiro, deparei-me com um jovem, de aproximadamente 17 anos, sangrando furiosamente pelo braço esquerdo. O sangue havia se espalhado ao lado da fileira de bancos e a mãe do jovem me explicou que ele havia sido esfaqueado logo após a chegada do ferry, no Cujupe. Um marinheiro me explicou que não havia qualquer tripulante da embarcação com capacitação para atender o esfaqueado. Uma passageira, técnica em enfermagem, me ajudou a enrolar o braço do jovem com duas velhas ataduras trazidas por um marinheiro. Minutos depois de termos contido o sangramento e posto o jovem no chão, sobre alguns coletes salva-vidas, então apareceu um par de luvas de borracha e uma enferrujada e suja maca. Até hoje o passageiro esfaqueado me pergunta como aquela embarcação tão grande não possui funcionários capacitados para prestar primeiros socorros e nem material para isso.
Na semana passada cheguei ao Porto do Cujupe por volta das 10:00 h. (dez horas) e consegui embarcar às 18:00 h. (dezoito horas). Nos guichês da Servi-Porto da Internacional, únicas empresas concessionárias dos serviços de transporte marítimo entre o Cujupe e o Porto da Espera, obtive a informação de que não mais havia passagens e que eu deveria encarar uma fila de espera, que naquele instante media mais de 500 m. (quinhentos metros). Dois dias depois experimentei o mesmo problema.
No dia 28 de julho, sábado, tentei comprar uma passagem para ir de Porto da Espera para o Cujupe. A resposta do vendedor: “Todos os ferrys estão lotados até segunda feira (30). Resta tentar a fila de espera”. Questionado sobre a razão para isso, recebi a seguinte explicação: “É que tem a festa de SantoInácio em Pinheiro; é período de férias e tem a política. Por isto tem muita gente viajando e os ferrys lotam”.
Nas oportunidades narradas acima pude descobrir que as empresas Marítima e Internacional não disponibilizam a totalidade das vagas dos ferrys para a venda antecipada das passagens. Consegui bisbilhotar num grande caderno de anotação das vendas feitas que somente cerca de 30 (trinta) passagens, para cada ferry, são vendidas para aqueles que as buscam diretamente nos guichês das empresas, em São Luis e no Cujupe, e que as restantes ficariam disponíveis para as filas de espera.
Estimo que cada ferry-boat carregue entre 80 (oitenta) e 120 (cento e vinte) veículos e lamentei muito ao descobrir, apenas me colocando por alguns minutos ao lado dos guichês de vendas de passagens, que várias delas são entregues a políticos conhecidos na baixada, numa espécie de reserva de amizade, ou vendidas mediante “peichadas” (não o que significa, mas funciona). Eu não posso reservar passagens e não posso comprá-las antecipadamente porque a quantidade disponibilizada para isso é insignificante. Mas para políticos, autoridades amigas das empresas e portadores de peixadas há sempre vagas sobrando.
Além dos problemas para conseguir embarcar, há a sujeira dos bancos, dos corredores e a fedentina dos banheiros, os quais estão com equipamentos quebrados e sem manutenção.
Em apenas num dos ferrys, no menor deles, consegui identificar um elevador para uso dos portadores de alguma necessidade física. Nos demais, idosos, crianças e pessoas com dificuldades de locomoção são obrigados a se espremer entre os veículos e a subir altas escadas para poderem alcançar o local adequado para viajarem. Dentro dos veículos, pelo que pude apurar com o pessoal da Capitania dos Portos, não pode ficar passageiro durante a travessia.
Se nos terminais de embarques há placas que anunciam a proibição de transportar carga viva (animais), como se explica o caminhão carregado de galinhas que é visto todos os dias no ferry das quatro ou no das cinco? Viajar ao lado de milhares de galinhas vivas foi a experiência mais fedida que já passei.
Afinal, quantos veículos cabem em cada embarcação? No Cidade de Tutóia uma placa posta no interior da embarcação diz que a capacidade á para 70 veículos pequenos. No dia que tirei a foto dessa placa contei 82 veículos pequenos, 05 caminhões e 06 ônibus, além de uma dezena de motos . Alguém fiscaliza isso?
Acho que todo mundo já se incomodou com a barulheira infernal dentro dos ferrys. Certa ocasião pude medi-la com um decibelímetro (aparelho que mede intensidade do som). Deu pouco mais de 110 decibéis. O ouvido humano suporta o máximo de 80. Daí prá cima faz muito mal prá audição.
E a vibração? Acho que a cola COREGA deveria fazer um teste numa viagem dessas. Já me falaram que dois dos maiores ferrys têm problemas crônicos de empenos nos eixos das hélices. Por isso vibra tanto. Nunca consegui tirar uma foto da paisagem sem tremer.
Devo perguntar então: que fazer para acabar com o desrespeito ao cidadão comum, àquele que amarga horas sentado em seu veículo, às vezes com crianças, idosos e doentes, sem local salubre para refeições, enquanto belos carros passam à margem da fila quilométrica apenas com uma informal reserva de passagem, para qualquer horário.
Com vocês, a palavra.
PLACA POSTA NO CIDADE DE TUTÓIA
RESTAURANTE DO CUJUPE
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