quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TIRAR SIM, MAS QUEM BOTOU?


TIRAR SIM, MAS QUEM BOTOU?

O presidente Lula finalmente veio a São Luís. Inaugurou a duplicação da Alumar, empreendimento totalmente privado de uma multinacional, entregou obras do governo de Jackson Lago realizadas em convênio com o governo federal (PAC da Camboa), e assinou alguns atos na área de saneamento com o governo suplente do estado.

Pelo que foi divulgado nos discursos de inauguração da ampliação da ALUMAR, o presidente Lula falou que pediu para a multinacional duplicar seus investimentos no estado e, em troca, revelou ter ficado com o compromisso de estar presente na inauguração da obra. Portanto, quando veio aqui foi para cumprir um compromisso com uma empresa privada e não um compromisso político ou uma homenagem ao povo do Maranhão. Nenhuma contrição por sua ausência ao estado em quase dois períodos de governo. Nada disso. E vejam que isto foi dito pelo próprio Lula publicamente.

Roseana, entretanto, não surpreendeu. Afinal, ela tinha mais era que tentar se aproveitar da vinda do presidente, um prato feito para quem domina a imprensa do estado. Com isso, vestiu a roupa de papagaio de pirata e disputou com Dilma todos os espaços possíveis para ficar junto ao presidente. Mas, na verdade ela deveria ficar com as “barbas” de molho, pois motivos não faltam...

Em relação a Roseana, Lula foi estranhamente comedido. Em nenhum momento garantiu ser dela um único palanque para Dilma, ser ela a sua candidata ao governo do estado. Não é para menos, ele até acabou por irritar ao próprio PMDB ao retirar dele, pela primeira vez, a indicação do candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, escolhido livremente pelo partido...

Mudando radicalmente de postura, o presidente disse que uma chapa presidencial é como um casamento e que Dilma teria que aprovar seu companheiro de chapa e que assim o PMDB deveria indicar três nomes ao PT para que este escolhesse o vice. Isso causou contrariou profundamente o partido forte do governo, que reagiu dizendo não aceitar isso de maneira nenhuma. Mas o presidente conhece bem o seu parceiro e por isso tripudia. Ele sabe que Dilma depende é dele e não do PMDB, que não poderá abandonar um ano antes os poderosos e inúmeros cargos que tem neste governo. Ficou muito ruim para Michel Temer, que se colocou como o indicado do partido para a vice.

Mas continuemos. Lula pela primeira vez vem a São Luís e não foi acompanhado por sindicalistas e petistas desde o aeroporto. Contudo, viu essa companhia, que continua fiel a ele, ser trocada pela turma da oligarquia, má companhia para um homem muito popular. Assim, acabou por dar indícios de que não estava à vontade. Além da agressão gratuita ao PMDB, ele acabou dizendo, em discurso que ele iria “tirar o povo da merda” (sic) em que se encontrava, deixando claro para todos os que o ouviam que, se estavam lá, alguém ou um grupo político, colocou-os lá. Pois bem, esse grupo não poderia deixar de ser o grupo Sarney, por óbvio, que manda nesse estado há mais de 40 anos e tem no governo a filha dileta, Roseana. Para quem mais poderia ser o desabafo?

Dora Kramer, a festejada colunista do Estado de São Paulo, uma das que goza de maior credibilidade na área política do país, viu assim o episódio: “Notadamente em Estados como o Maranhão, onde o presidente Lula oficializou a introdução no uso da palavra chula na liturgia do cargo e a “elite dominante” mantém a décadas o “povo” na convivência dos piores índices de (sub)desenvolvimento social do país...do que vale uma frase de efeito ante a realidade de celebração da família Sarney, dona do Maranhão, com tentáculos no Amapá, ambos entre os cinco piores Estados no índice de desenvolvimento dos municípios, medidos pela Federação das Industrias do Rio de Janeiro em 2008? O Maranhão é o campeão do ranking e o Amapá fica em quarto lugar.”

E Lula não parou por aí, tal a revolta que certamente sentiu. Referindo-se a Roseana, disse em tom de repreensão: “(...) os governantes não gostam de fazer obra de esgoto porque fica enterrada e não podem colocar placas nem dar nome de parentes a elas”. Impossível ser mais direto...

Não satisfeito, disse que somente no governo do General João Figueiredo e no dele foram realizados programas de habitação popular. E ainda completou com ênfase: “principalmente quando acabaram com o Banco Nacional de Habitação, o BNH”. Pura verdade! Porém, só não disse explicitamente, porque desnecessário, que quem acabou o BNH foi o presidente José Sarney!

Todos viram que o presidente admite outra candidatura ao governo do Maranhão que também tenha Dilma como candidata. Nada de fechar com o grupo Sarney como eles desesperadamente desejavam ouvir.

Sarney tentou dar um golpe genial. Declaradamente adoentado, ele contava que Lula fosse visitá-lo em sua casa. Quando viu que a coisa fugia ao controle, ele resolveu ir até a ALUMAR, onde Lula o paparicou um pouco dentro da lógica que tinha explicitado antes: a de que o PT local deveria ficar com quem tivesse votos. Referia-se, como toda a imprensa sulista publicou, a votos no Congresso Nacional. A tal da nefanda governabilidade...

Quanto à refinaria Premium, Lula despistou e usou uma frase de efeito para não entrar em detalhes. Disse que “o bicho vai pegar”. Na entrevista coletiva que concedeu aqui, quando perguntado sobre o empreendimento, ele teve que ser lembrado de que não havia citado a do Maranhão, ao falar nas previstas para outros estados do Nordeste. Enfatizou então que a do Maranhão seria a maior. Disse que a Petrobras era contra, mas que ele mandou e ia ser feito. Que era um projeto elencado para usar o óleo do pré-sal e que agora estava na fase de licença ambiental e na de preparação dos projetos de engenharia (que na verdade ainda não começaram a ser feitos, pois o pré-sal é para 2020). E falou ainda que em janeiro de 2010 a terraplenagem começaria a ser feita.

Pois bem, o presidente apenas confirmou tudo o que dissemos aqui em alguns artigos. A refinaria só não será feita se o pré-sal der para trás, o que esperamos que não aconteça. Logo, este não será um projeto de Roseana e muito menos um projeto eleitoreiro para o ano que vem. Terraplanagem não é refinaria e a de Pernambuco, que tem um sócio firme - a PDVESA da Venezuela, teve as obras atrasadas na semana passada por falta de dinheiro. Lá, a terraplanagem do local de instalação da planta foi realizada há quatro anos.

Infelizmente, Lula não pode mentir para a oligarquia.

Agora vejam quanta diferença entre o Lula de 2006, quando pedia “pelo amor de Deus que votassem em Roseana” e o de agora...

Para finalizar, guardem essa: Flávio Dino entrou com uma ação na Justiça questionando a lei de partilha do pré-sal. Assegura que é inconstitucional a partilha dos recursos da união feita de maneira desigual. Confirmando-se a sua ação, terá sido o maranhense que mais fez pelo Estado em toda nossa história...

Ele prova mais uma vez que defende o nosso estado acima de tudo e enfrenta as grandes e poderosas forças das outras unidades federadas. Tudo pelo Maranhão.

Escreveu José Reinaldo Carneiro Tavares

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