Após a grande repercussão de casos que destacam vantagem do tráfico de drogas sobre as forças de segurança e a violência cometida contra agentes policiais, o Diário do Poder ouviu o senador Sérgio Moro (União-PR), ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, exitoso na gestão de uma política que fez cair os índices de criminalidade e lhe rendeu o título de inimigo do PCC.
Assumindo a linha de frente no combate ao crime organizado, o ex-juiz da Lava Jato obteve recordes históricos, que repercutiu em entrevista exclusiva ao Diário do Poder.
“Em 2019, tivemos a maior queda histórica de assassinatos, roubos e outros crimes. Assassinatos, por exemplo, caíram 20% em relação a 2018, segundo dados do Atlas da Violência. Então, seguimos o caminho correto”.
Na avaliação do senador Moro, o jogo virou no cenário da segurança pública porque o combate à criminalidade deixou de ser prioridade quando o atual governo assumiu. “A prioridade do Ministério da Justiça atual é combater o que eles chamam de atos antidemocráticos, como a reação ao que ocorreu em 08/01. Repudiamos as depredações e invasões, mas isso não pode ser o norte da segurança pública”, analisou.
Veja a íntegra da entrevista:
- Vemos, atualmente, a alta no poderio do tráfico de drogas e o crescimento da violência contra policiais. O senhor acredita que o atual projeto do Ministério da Justiça tem contribuído para isso?
– O Brasil tem um problema com a criminalidade, não é só corrupção, mas criminalidade violenta, como gangues e organizações criminosas. Isso significa que o poder público deveria ter como prioridade combater essa criminalidade. O Ministério da Justiça atual deixou muito claro desde o início que não seria esse o caso. A prioridade atual é combater o que eles chamam de atos antidemocráticos, como a reação ao que ocorreu em 08/01. Repudiamos as depredações e invasões, mas isso não pode ser o norte da segurança pública. O que interessa ao cidadão comum é que ele possa sair de casa sem ser assaltado, sem ser assassinado, e que o domínio dessas organizações criminosas seja diminuído. Vejo então uma inversão das prioridades da segurança pública no Brasil pelo Ministério da Justiça – algo que deveria ser alterado.
- Por que a sua gestão à frente da mesma pasta configurou resultados opostos aos que observamos agora?
– Quando assumi o Ministério da Justiça nós definimos como prioridade: combate à corrupção, combate ao crime organizado e combate à criminalidade violenta. Desenvolvemos uma série de projetos nessa linha e, entre outras medidas, isolamos os líderes da maior organização criminosa do país, o PCC, em presídios federais e mudamos o regime de visitação – para que eles não pudessem enviar ordens de dentro dos presídios. Essas atitudes romperam a cadeia de comando da organização. Intensificamos o confisco dos bens decorrentes dos crimes para poder retirar o poder financeiro dessas organizações criminosas; revitalizamos o Banco Nacional de Perfis Genéticos – instrumento poderoso de investigação e; reforçamos as forças-tarefas da Operação Lava Jato na época.
Essas medidas acabaram levando a diminuição de crimes no país. Em 2019, tivemos a maior queda histórica de assassinatos, roubos e outros crimes. Assassinatos, por exemplo, caíram 20% em relação a 2018, segundo dados do Atlas da Violência. Então, seguimos o caminho correto. No ano seguinte houve um leve aumento percentual decorrente da paralisação dos policiais na pandemia, já nos outros anos houve um decréscimo. Hoje já não sei, já que a prioridade do Ministério da Justiça é outra. Talvez tenhamos um aumento dos crimes comuns acentuadamente a partir de agora, como aconteceu no primeiro e segundo governo Lula.
- Na sua avaliação, qual o principal gargalo na área da segurança pública do Brasil?
– Não existe nenhum coelho que se possa retirar da cartola para resolver todas essas questões. Combater o crime é difícil, custoso, e requer esforço contínuo e permanente. Nós temos que endurecer a legislação e deixar mais eficiente a investigação e a prisão desses criminosos. O que funciona? Polícia preventiva e a polícia repressiva, mandando para a cadeia, neutralizando a capacidade de cometer crimes. Não tem nenhuma solução fácil. É um trabalho cotidiano, que envolve, entre outros pontos, a valorização do policial – que está na linha de frente. Claro, que o mal policial tem que ser investigado e punido, mas não podemos generalizar um discurso de ódio e de acusação contra os policiais, como, infelizmente, parte da política e setores da sociedade as vezes faz.
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