O dia 25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra
Latino-Americana e Caribenha.
No Brasil, o dia também é em homenagem à Tereza de Benguela,
líder quilombola que se tornou rainha, resistindo bravamente à escravidão por
duas décadas.
Esse ano, a data traz à tona a luta da mulher contra o
feminicídio, as reformas que destroem os direitos do povo brasileiro,
principalmente, das mulheres negras e por reparações à comunidade negra.
Tereza de
Benguela
*Há poucos registros sobre seus feitos, mas o que se sabe é que a
Rainha Tereza, como era chamada, esteve à frente do Quilombo do Quariterê
depois que seu companheiro, José Piolho, foi morto pelas forças coloniais.
Naquele momento, ela assumiu a organização política e militar da
comunidade. “Foi uma liderança muito especial, porque ela não só pensava em
toda a estratégia de guerra e de resistência como também era uma guerreira
combatente”, diz Jaqueline Fernandes, 41, idealizadora e fundadora do maior
festival de mulheres negras da América Latina, o Latinidades.
Localizado no Vale do Guaporé, em Vila Bela da Santíssima
Trindade, Mato Grosso (perto da fronteira com a Bolívia), o quilombo era
controlado com mão de ferro por Tereza, que castigava quem a desobedecia.
De acordo com Aline Nascimento, 34, historiadora, mestre em
relações étnico-raciais e que integra a equipe do Instituto Identidades do
Brasil (ID_BR), havia um motivo por trás desse comportamento: “Essa liderança
mais rígida era não só por ser uma mulher, mas por dar conta de toda uma
estrutura de defesa e articulação”.
Registros históricos apontam que Tereza constituiu no quilombo
um sistema parlamentar e comandou uma comunidade composta de negros e
indígenas, que viviam do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana e
a comercialização dos excedentes.
“Os quilombos não
eram lugares de negros fugidos e de economia de subsistência, como afirmam os
registros coloniais. Eles nunca foram isolados dos mercados regionais. Pelo
contrário, se mantinham por meio de atividades agrícolas e da comercialização“,
afirma Emmanuel de Almeida Farias Júnior, 41, professor da Universidade
Estadual do Maranhão e pesquisador das comunidades quilombolas na Amazônia.
Mas eram locais de resistência, e Rainha Tereza transformou-se
numa ameaça ao poder central. Em fins do século 18, ela terminou capturada e
presa.
De acordo com uma versão da história, uma vez no cárcere, ela
parou de comer e morreu em decorrência dos maus-tratos e da falta de
alimentação. Sua cabeça foi cortada e exposta na praça do quilombo. Segundo
outra versão, ela se matou.
Para a historiadora Aline Nascimento, celebrar a líder
quilombola no dia 25 de julho é uma escolha simbólica porque chama a atenção
para o poder de uma mulher negra. Na sua opinião, é importante conhecer
trajetórias como a de Tereza, para que a população negra não seja vista apenas
em uma relação de subserviência da escravidão, em detrimento de histórias que
também são de luta.
“Por isso, é urgente retomar essas narrativas para entendermos
que não tem [só] uma Marielle ou uma Tereza de Benguela, existem muitas, que
são silenciadas todos os dias em todos os lugares, mas que mesmo assim não
abaixam a cabeça e seguem em frente”, afirma Nascimento.
A escolha de 25 de julho, por sua vez, se deu porque, no mesmo
dia, comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e
Caribenha. A data virou um marco de luta e resistência após o 1º Encontro de
Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado na República
Dominicana, em 1992.
Para Jaqueline Fernandes, do festival Latinidades, a data não só
traz o protagonismo dessas mulheres como também vem lembrar que, na América
Latina e no Caribe, houve um processo brutal de escravidão. “A abolição
inacabada deixou como mal legado os piores índices de acesso às políticas
públicas e violência aplicada às mulheres negras”, diz.
Marcar no tempo a data é trazer a necessidade de repensar como
as mulheres negras
avançam e continuam sofrendo todas as combinações de violência,
segundo a historiadora Aline Nascimento.
Para ela, as mulheres negras recebem o ônus de toda a estrutura,
principalmente a econômica. Por isso, “olhar para as mulheres negras que estão
na base é pensar e construir soluções para toda a sociedade, e não só para um
grupo”, afirma.
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