domingo, 18 de outubro de 2020

A importância do diagnóstico

Por Joaquim Haickel 

A evolução da ciência e da tecnologia fez com que uma das grandes aptidões dos médicos rareasse e chegasse ao ponto de quase desaparecer. Falo da fenomenal capacidade dos médicos antigos, aqueles que praticavam a medicina até os anos 1970, em diagnosticar as doenças de seus pacientes, baseados nos relatos deles quanto aos sintomas que apresentavam.

Usando apenas a anamnese e o exame físico, os bons médicos, eram capazes de dizer exatamente de quais males sofriam seus pacientes.

Tenho um exemplo disso em minha família. O grande pediatra Odorico Amaral de Matos, era capaz de, observando seus pacientes, conversando com eles e com seus pais, diagnosticar as doenças que eles tinham, fato que aconteceu com Nagib, meu irmão, acometido de febre de 42 graus, fortes dores na cabeça e rigidez no pescoço, foi peremptoriamente diagnosticado com meningite meningocócica.

O velho Amaral que era conhecido por sua natural rudeza, o que não significava de forma alguma mera grosseria, ordenou que meus pais levassem meu irmão para São Paulo, pois era o único lugar em que ele poderia ser tratado com possibilidade de sucesso. Isso era 1972.

Já fazia quase 70 anos que os Curie haviam estabelecido os estudos que possibilitariam o avanço científico e tecnológico que temos hoje, capazes de dizer em minutos quais doenças nos afligem, apenas entrando em alguma gerigonça radioativa.

Faço todo esse preâmbulo para dizer que se a ciência e a tecnologia ajudaram muito a evolução do estudo da medicina, da física, da química e outros campos da vida moderna, os setores ligados às ciências humanas continuam pouco favorecidos por essas evoluções, notadamente a ciência pela qual eu me interesso muito particularmente. A ciência política.

Em que pese a estatística, o marketing, as pesquisas quantitativas e qualitativas terem fornecido grandes instrumentos para a prática da política, ela continua uma ciência muito afeita aos humores e às reações naturais, às vezes, inconsequentes e até um tanto irracionais das pessoas que a praticam.

A ciência política permanece em sua característica básica e fundamental alinhada com suas coirmãs, ciências humanas, como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a psicologia, a história, a geografia, mesmo que todas estas tenham sido muito influenciadas pelos avanços científicos.

A datação por carbono possibilita sabermos a idade dos ossos de um hominídeo, por exemplo. O uso do GPS e dos satélites nos permitem saber a localização exata de pontos geográficos ou dos eventos acontecidos neles. A evolução da química nos ajuda a filtrar e analisar ações e atitudes psicológicas das pessoas.

Mas na política, todas essas evoluções, dependem primordialmente de um operador ou de um analista. Uma espécie de perfumista, um “nariz”, que possa decifrar as nuances e as fragrâncias dos acontecimentos.

O cientista político, aquele camarada que se atreve a analisar, aclarar e desvendar os caminhos escolhidos e percorridos por aqueles que se dedicam a tratar dos interesses comuns da sociedade, precisa respeitar algumas regras, se não quiser ser tachado de charlatão, sectário e maniqueísta.

Ele precisa fazer suas observações da maneira mais imparcial e isenta que puder. É imperativo que ele não faça seus estudos motivado por qualquer tipo de interesse ou ideologia. Suas abordagens precisam ser bem fundamentadas, fugindo dos sofismas e dos falsetes. Mesmo assim deve reconhecer que ainda que ele aja desta maneira, haverá em sua observação algum componente humano que pode contaminar sua amostragem.

Digo tudo isso no intuito de responder ao questionamento de um sujeito um tanto indelicado que comentou um de meus textos.

Sabe camarada, eu resolvi não mais me candidatar por acreditar que já havia prestado minha contribuição a meu estado e meu país. Se ela foi importante, é uma questão de opinião, e opinião é coisa que não se discute. Fim de papo!

PS 1: Sobre a eleição de prefeito de São Luís, meu diagnóstico e de uma boa quantidade de analistas da cena política de nossa terra, é que a eleição de Eduardo Braide é o que de mais importante e positivo pode acontecer para todos, uma vez que até os perdedores ficarão em posições mais confortáveis.

PS 2: Essa afirmação não é uma mera manifestação de minha vontade pessoal. É resultado de observação apurada e análise detalhada dos acontecimentos e previsão dos quadros futuros da política maranhense.

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