“Minha história começa em um vilarejo no Vietnã com uma bomba e uma fotografia. Até 8 de junho de 1972, no dia em que a bomba de napalm caiu em Trang Bang, eu era uma criança feliz, tinha nove anos e não sabia nada sobre a guerra.”
Assim começou o discurso de Kim Phuc, conhecida aos nove anos, quando foi fotografada fugindo de seu vilarejo atingido por uma bomba de napalm durante a Guerra do Vietnã.
A declaração ocorreu na capital paulista, no lançamento da autobiografia A Menina da Foto.
Ela lembrou que, naquele dia, todos os moradores do vilarejo tinham sido alertados que deveriam se esconder dentro do templo.
Lugar sagrado
“Para as crianças, parecia que seria uma nova aventura. O templo era um lugar sagrado, um lugar seguro. Como nós poderíamos imaginar que aquele fogo horrível cairia dos céus. Foi só quando os soldados gritaram para as crianças correrem, naquele momento nós tivemos muito medo”, disse.
Os aviões passavam muito perto e os moradores da vila correram após sons de bombas e cheiro de gasolina. “As minhas roupas foram queimadas, minha pele pegou fogo, alguém começou a gritar ‘tá muito quente’, esse alguém era eu”, disse.
O fotógrafo Nick Ut estava na estrada por onde os moradores fugiam das explosões. “E ele tirou uma foto muito poderosa de mim. Uma imagem que tocaria o coração das pessoas. Algumas pessoas dizem que essa foto ajudou a colocar um fim à guerra”, afirmou, lembrando que Nick a levou até o hospital mais próximo, quando já estava gravemente queimada.
“Eles me transferiram para um hospital infantil e neste hospital eles perderam as esperanças e eu fui transferida para um necrotério. Depois de três dias me procurando, meus pais me encontraram no necrotério, mas eu ainda estava viva. Todo mundo estava esperando que eles levassem meu corpo de volta para a vila para o enterro”, relatou.
Cultura de paz e do perdão
Apesar dos momentos dolorosos relatados, Kim dissemina uma cultura de paz e diz ter superado a raiva que tinha pelos responsáveis pelo ataque dos Estados Unidos contra seu país.
O momento de virada na vida dela sobre a questão ocorreu em 1996, quando discursou em um evento em Washington, capital dos Estados Unidos, para veteranos da Guerra do Vietnã.
Na ocasião, a vietnamita contou que, em muitos momentos, não sabia se sobreviveria. “Se pudesse falar com o piloto que jogou a bomba, eu diria: não podemos mudar a história, mas devemos tratar de fazer coisas no presente no futuro para promover a paz”, disse a todos. Um deles era o capitão John Plummer, oficial que ordenou o bombardeio no vilarejo de Kim, com o qual ela se reencontrou e relatou tê-lo perdoado.
“Eu aprendi que, para ser livre, eu teria que aprender a perdoar. Não foi fácil. Estou aqui, é um milagre vivo”, finalizou a vietnamita.(Abr)
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