Postado por: DANIELA MARTINS
Parece cristalino o abuso policial ocorrido ontem na
manifestação de professores em Curitiba. Pior: houve recusa do governador Beto
Richa (PSDB) em interromper a repressão após uma conversa com o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo.
A senadora Gleisi Hoffman, do PT do Paraná, conversou com o
ministro da Justiça e pediu que ele tentasse convencer Richa a negociar com os
manifestantes ou parar a dura atuação policial. Cardozo falou com o governador
e disse à senadora Gleisi que a resposta havia sido negativa e que a ação
continuaria.
Em qualquer conflito em que haja participação de policiais,
cabe a eles ter o equilíbrio para o uso necessário da força. Alguns policiais
tiveram esse equilíbrio e se recusaram a atacar com violência os manifestantes.
Mas a maioria não agiu assim. O trabalho dos policiais civis e militares é
sempre difícil, mas esse conflito mostra, no mínimo, falta de preparo para
lidar com manifestantes.
As cenas de ontem, estampadas nas manchetes de hoje, mostram
truculência da Polícia Militar do Paraná. Há fotografias de pessoas com os
rostos atingidos por balas de borracha. Numa democracia, não é aceitável um
tratamento desse tipo, ainda que tenha havido erro da parte dos manifestantes.
Obviamente, não caberiam todos manifestantes na Assembleia.
Mas fechar o Poder Legislativo à manifestação popular, qualquer que seja a
orientação política ou a reivindicação em questão, é um ato antidemocrático. A
reação externa fala por si mesma. Basta ver as imagens, as fotografias e os
relatos do que aconteceu.
Proibir o acesso às galerias da Assembleia Legislativa do
Paraná significa uma tentativa de passar o rolo compressor a favor do projeto
defendido pelo governador tucano Beto Richa, que modifica as regras do fundo
previdenciário de funcionários públicos.
As regras de governança previdenciária mais modernas mandam
que sejam criados fundos de pensão específicos para os funcionários públicos,
nos quais são exigidas contribuições do Estado e dos funcionários. A União já
criou esse fundo, por exemplo, na reforma da Previdência.
No caso do Paraná, o governo quer usar parte dos recursos de
um fundo previdenciário para pagar uma parcela de aposentadorias que deveriam
sair diretamente do caixa do Estado. O governo deixará, assim, de pagar sozinho
esses benefícios.
É uma mudança de regra que prejudica as contas do fundo
previdenciário no longo prazo, mas serve para o governador Beto Richa fazer uma
injeção de caixa agora. Ajuda as finanças do Estado no curto prazo. Não é a
melhor solução, porque vai sacrificar as finanças do Paraná no longo prazo.
Trata-se de uma discussão técnica, financeira e política que
deveria ter sido feito de modo mais longo. É fato que o Paraná atravessa grave
crise financeira e que está fazendo um ajuste fiscal, a exemplo do governo
federal. No entanto, votando a portas fechadas, a Assembleia aprovou o que
queria Beto Richa.
Em resumo: nada justifica a truculência nas ruas de Curitiba
ontem. A forma como foi aprovado o projeto e o massacre dos funcionários
públicos foram erros do governador do Paraná.
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