LEONENCIO NOSSA
ENVIADO ESPECIAL SÃO LUÍS E PINHEIRO
O ESTADO DE S. PAULO
Ex-presidente não participa da campanha de Lobão Filho e oposição deve ser vencedora com o candidato Flavio Dino (PC do B)
A cabeça de bronze do homem de bigode e entradas acentuadas nos cabelos, num pedestal deteriorado da praça, é uma rara e solitária imagem do senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) em Pinheiro, cidade onde nasceu há 84 anos. Detritos de pássaros mancham a face do busto. A placa de identificação foi roubada. Cabisbaixos e de pouca conversa, moradores dizem que o velho patriarca foi orientado a não aparecer em eventos públicos no município da Baixada Maranhense, rincão de 50 mil habitantes, separado da capital, São Luís, por águas profundas e turbulentas.
Nesta campanha, um dos homens mais influentes da história recente do Brasil evitou viajar até para cidades onde sua lenda ainda suspira. Sarney permaneceu recluso em sua mansão no bairro nobre da Praia do Calhau, na capital. Só apareceu no programa de TV do neto e candidato a deputado estadual Adriano (PV), filho do deputado federal Zequinha Sarney, da mesma sigla.
Por decisão pessoal e por estratégia política, Sarney não foi a comícios do candidato a governador de seu grupo, Edison Lobão Filho (PMDB), que está atrás de Flávio Dino (PC do B) nas pesquisas e protagoniza uma das campanhas mais agressivas do País, com forte trocas de acusações.
Filho e suplente de senador do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), aliado histórico dos Sarneys, o candidato disse: “Eu não sou continuação da família Sarney. Sou renovação do grupo político, entendeu bem? O meu governo é um governo novo. Roseana jamais me pediu para manter um secretário.”
A atual governadora desistiu de concorrer a uma cadeira no Senado. Na terça-feira, na inauguração de uma clínica de exames médicos em São Luís, falou rapidamente com o Estado. “Vou tirar um sabático no próximo ano. Graças a Deus.”
O secretário estadual de Saúde, Ricardo Murad, cunhado da governadora, deu o tom do temor do grupo em deixar o poder político. Num discurso em Coroatá, cidade governada por sua mulher, Tereza, Ricardo pôs a mão esquerda no ombro de Lobão Filho e, com a direita, segurou firme o microfone para dizer que uma vitória de Dino “será a desgraça, o fim do mundo, a treva’’. “Eu não posso imaginar a nossa vida sem o governo’’, disse. “Gente, eu não posso deixar de ser governo.’’
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