Por Ipojuca Pontes
“O jornalismo é a segunda mais antiga profissão do mundo” – Bernard Shaw
A partir de 1º de setembro o ex-poderoso “Jornal do Brasil”, hoje com uma tiragem diária de 15 mil exemplares, deixará de circular. O periódico matutino, fundado em 1891 para defender a Monarquia, dirigido entre outras figuras por Rui Barbosa, vinha funcionando com um déficit operacional na ordem de R$ 100 milhões. Segundo Nelson Tanure, seu proprietário, o jornal será mantido apenas nas páginas eletrônicas da Internet – tal como ocorre hoje com a “Tribuna da Imprensa”, de Hélio Fernandes, fundada em 1949 por Carlos Lacerda.
A falência do jornal impresso atinge em especial a chamada grande imprensa e, com efeito, para analistas da matéria a extinção de sua supremacia parece estar cada vez mais próxima. Na França, por exemplo, os diários “Libération” e “Le Monde”, ambos de esquerda, ainda que contanto com subsídios governamentais, andam pelas tabelas. De fato, vão devagar quase parando: “Libération”, fundado por Jean Paul Sartre (em 1973), sobrevive apelando para o jornalismo digital e o “Le Monde”, mal das pernas, cambaleia amparado na grana suja de esperma do gangster Xavier Niel, sujeito que começou a vida explorando casas de show em que mulheres nuas podiam ser vistas através de vitrines contorcendo-se em movimentos eróticos.
A falência do jornalismo à esquerda não fica restrita a França de Sarkozy: na Inglaterra, segundo a “Economist”, nada menos de 70 jornais fecharam suas portas, sem choro nem vela, no biênio 2008/2009. O próprio “New York Times”, o templo mundial do jornalismo “politicamente correto”, perdendo assinantes e receitas publicitárias em cascata, enfrenta no momento uma dívida em torno de US$ 1 bilhão – o que o obrigou a abrir mão do controle de vários jornais da cadeia em todo país, salvando-se apenas o “Boston Globe” (ninguém sabe até quando).
Sim, é fato: para continuar circulando, a The New York Times Coteve de vender a W. C. Carey & Company o prédio sede de 52 andares, situado na 8ª Avenida, no coração de Manhattan, passando a pagar o aluguel dos 19 andares onde outrora reinou como Deus desaconselha e o diabo manda: pedante e mentiroso.
Pior: para não pedir concordata, a família Sulzerberg Ochs, que controla The New York Times com 19% das suas ações, viu, sem poder pestanejar, o empresário mexicano Carlos Slim Helú (dono no Brasil das empresas telefônicas Claro e Embratel) aumentar para 17% o controle acionário do jornalão sabe-tudo.
Pior ainda: para salvar o volumoso investimento avaliado em US$ 267 milhões, o mexicano Slim - gordo, ensebado e bigodudo como o Sargento Garcia, de “O Zorro” - começou por impor cortes nos gastos com um exército de correspondentes e fechar sucursais no exterior. Em 2009, The New York Times tinha registrado um prejuízo de US$ 74, 5 milhões.
Muita gente boa aponta o jornalismo eletrônico como o principal responsável pela ruína dos jornalões. Os motivos não são nada desprezíveis: blogs e sites não gastam com papel nem mantêm grandes redações, nem tampouco sofrem com perdas de receitas publicitárias – embora hoje, como se tornou evidente, o jornalismo on line comece a morder firme nas contas das grandes e pequenas agências de propaganda.
Por outro lado, graças ao avanço da tecnologia digital, o jornalismo eletrônico conta com um dispositivo excepcional: sua dinâmica permite acompanhar e refazer a notícia a cada segundo, sempre em cima do fato, possibilitando até mesmo a transmissão de imagens ao vivo, usando, para tal fim, o vasto acervo imagístico exposto no YouTube.
No entanto, não é apenas no plano da operacionalidade que o jornalismo on line causa rebuliço. Se a imprensa é, em essência, notícia e análise, o jornalismo eletrônico permite as duas coisas – o que o torna mais ágil, denso e promissor, cumprindo, em qualidade e quantidade, um papel sem paralelo no jornalismo de todos os tempos.
Ademais, para fazer a análise qualificada, o jornalismo de site dispõe de tempo, espaço e liberdade (inimagináveis nas folhas de hoje em dia), conjunto de privilégios só entrevisto nos primórdios do bom jornalismo inglês, quando tipos como Samuel Johnson, Bernard Shaw, Addison e Hazlitt faziam da notícia “essays” generosos, férteis de conhecimento e objetividade crítica.
Por sua vez, o jornalismo eletrônico, quando exercido à vera, sem a inibição dos códigos de redação e intermediários de praxe, cria uma ambiência especial, feita de independência, pesquisa e ousadia que só encontra paralelo no extraordinária clima de parceria que se estabelece entre quem escreve e quem lê. Não é por outro motivo, penso, que há quem passe entre 10 e 12 horas por dia navegando (termo preciso) na internet, transformando-se o navegador num potencial repassador de matérias, ou seja, num internauta.
Em troca, o que nos dá os jornalões?
De início, uma soma de mistificações, distorções e mentiras de estontear qualquer Mike Tyson. Com efeito, salvo hiatos, o seu noticiário, editoriais e as “análises” dos seus “formadores de opinião” estão sempre, no seio da grande imprensa, sonegando a realidade em função de interesses ideológicos “politicamente corretos” – vale dizer, “utópicos”.
Querem um exemplo da perversão? Recentemente, o ex-candidato à presidência da Venezuela, Alejandro Peña Esclusa, um cidadão honrado e opositor pacífico, foi preso em sua residência pelos esbirros de Hugo Chávez, que usaram como pretexto, para tirá-lo de circulação, evidências falsas, afirmando possuir ele um arsenal de bombas num guarda-roupa. Peña Exclusa não é qualquer um: trata-se de um líder integro que provavelmente será, quando a nuvem negra do chavismo passar, o futuro presidente da Venezuela.
Pois bem: o que dizem os nossos jornalões sobre o lastimável atentado? Nada ou muito pouco, uma pequena notícia de pé de página, sem direito a chamada, foto ou perfil em box. Onde anda o departamento de pesquisa dos jornais brasileiros que nada nos contam sobre Peña Exclusa, um líder democrático trancafiado por um ditador delirante? Será por ser ele considerado de “direita”?
O jornalismo livre e consciente tornou-se uma impossibilidade na chamada grande imprensa nacional: o capachismo ideológico tomou conta de tudo. Mas ele é, ou deveria ser, soberano, visto repudiar qualquer vestígio de opressão ou despotismo, venha de onde vier. Nesta perspectiva, a denúncia da brutalidade cometida por Chávez contra Peña Exclusa deveria ser matéria de primeira página, com direito a acompanhamento diário até a sua libertação.
Em suma, eis o que eu queria dizer: o papel do jornalista consciente, com o dom que Deus lhe deu, é o de apurar e dizer a verdade - custe o que custar. Se possível, de maneira clara, integra e objetiva. Cumprir tal tarefa, no entanto, está ficando cada vez mais difícil no jornalismo tupiniquim, com suas alianças espúrias e seus interesses inconfessos. Os jornalões se esmeram, apuram a roupagem visual, contratam “vedetes” e abrem dezenas de colunas para roubar o tempo do leitor.
Tudo sem muita importância. Pois diante da grande imprensa um espectro se impõe e apavora: o do jornalismo on line, livre e altivo como um falcão em vôo pleno.
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