sábado, 13 de abril de 2013

O Ministério Público e a PEC 37


O Ministério Público agora se mobiliza contra a Proposta de Emenda Constitucional nº 37, que tenta limitar os poderes de investigação da Instituição. Hoje, na OAB-MA, o auditório estava lotado, mas ressentiu-se da presença das principais entidades da sociedade civil. Sintomático. Explico.
Esse talvez seja o principal enfrentamento do sistema político brasileiro com o Ministério Público. A PEC certamente contará com muitas adesões no Congresso que aí está. Afinal, ele foi formatado pelo modelo de disputa eleitoral vigente, em que grande fiscalizador é exatamente o MP.
Em resumo, o MP hoje colhe os frutos de uma omissão histórica, que indica menos do que pujança, mas exaurimento, decorrente de sua cooptação pelo sistema político. A Constituição de 88 quis um outro Ministério Público: atuante, corajoso, defensor da sociedade (por isso, deu-lhe garantias assemelhadas às do Poder Judiciário.
Mas adentrar nesse debate exige discernimento político, principalmente porque o outro lado esconde certas maliciosidades. O sistema de segurança pública não tem avançado uniformemente nem no país e nem nos Estados. Está ainda longe de ser um sistema inteiramente republicano, em que pese o avanço da polícia federal e em certos setores da polícia civil. Via de regra, principalmente nos rincões mais distantes, funciona como garantidor da opressão das pequenas e medievais oligarquias. Isso sem falar nas doenças crônicas de que padece: o abuso de autoridade, a arbitrariedade e a tortura. A PEC promove uma disputa entre instituições que deviam somar e se fortalecer juntas.
O Ministério Público comeu mosca. Deveria ter assumido a luta pelo fortalecimento do sistema de segurança pública. Deveria também ter assumido a luta pela democratização das políticas públicas, apontando para outro modelo de desenvolvimento. Nessa trincheira, já teria contribuído fortemente para transformar o perfil da classe política, filha natural do abuso de poder econômico, da corrupção eleitoral e da improbidade administrativa.
Hoje vivenciamos a possibilidade de um retrocesso, onde as trincheiras de resistência estão desaparecendo, ao sabor de interesses escusos, radicados no sistema político. A instituição está na defensiva, porque descuidou dos grandes temas. Amesquinhou-se numa elitização sem sentido, resguardadas, como sempre, as exceções que nos honram. Esse era o órgão que poderia colocar o sistema político na parede, mas acovardou-se na maior parte do tempo. Humilhou-se, aceitando cordialmente as regras de um jogo que já deveria ter sido modificado.
A exemplo da OAB, como o MP enfrentará o sistema político corrompido se não lutar pela independência que ainda não existe? Como moralizar os tribunais, se não estão despidos da influência das escolhas políticas através do famigerado quinto constitucional, onde os indicados formam uma verdadeira procissão de humilhados pela classe política? Como desejar pujança e fervor fiscalizatório e combativo, se os Procuradores Gerais dependem da indicação do Poder Executivo e suas condicionantes políticas?
Creio que a luta maior ainda está por vir, ainda que no estágio atual a resistência seja por manter os canais investigação existentes totalmente abertos.

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