quinta-feira, 20 de março de 2008


A trajetória política de Sarney, raposa velha da política, que ao longo dos últimos 40 anos vem se mantendo no poder no Amapá, Maranhão e no Brasil. Parece que finalmente Sarney deparou-se com um “ Cul-de-sac”, ou seja, uma rua sem saída.
O senador José Sarney é ex-presidente da República, ao contrário do também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que resolveu sair de cena após terminar seu mandato, Sarney, que deixou a presidência com a popularidade em franca decadência, resolveu vir se candidatar ao senado no Amapá. Na verdade, Sarney já havia escolhido o Amapá como feudo político quando ainda era presidente da República. Naquela época o Estado era Território, o governador era indicado e Sarney indicou seu primo, Jorge Nova da Costa, para ser o último governador do Território e o primeiro da transição para Estado.
Quando se está no poder, tem-se nas mãos condições de manter uma extensa rede de amigos e apadrinhados que dão base e sustentação para o poder que se tem. Quando se deixa o poder, abre-se mão disso e realinha-se as bases de acordo com a nova realidade. No caso de José Sarney, que foi presidente da República, ainda que por um triste acaso já que o presidente Tancredo Neves morreu e Sarney era vice-presidente, ele abriu mão de uma parte do poder que tinha, mas sempre fez tudo para manter sua rede a mais extensa possível. Assim, ele fez parte de todos os governos que o sucederam, e conseguiu manter um nicho enorme de cargos e polpudos orçamentos.
O primeiro tranco em José Sarney veio ainda em 2002, quando este planejava lançar a filha, Roseana Sarney, candidata a Presidência da República, tudo ia muito bem, até que uma operação da polícia federal descobriu R$ 1 milhão em dinheiro vivo no prédio da Lunus, empresa da filha e do então genro de Sarney, Jorge Murad. Foi o fim da candidatura e o rompimento de Sarney com FHC, cujo governo tinha apoiado desde o início. Sarney, cuja rede precisava continuar sendo alimentada, pulou então para o barco de Luis Inácio Lula da Silva e deu ao futuro presidente o que ele precisava, a chancela oligárquica para sua candidatura, ele passou a ser a garantia de que Lula não seria o Hugo Chaves brasileiro, ou seja, moderou a imagem do futuro presidente. Com a vitória petista, Sarney foi muito bem recompensado, porém a água passou a bater nas suas canelas no berço político do clã, o Maranhão.
Eleito com o apoio do clã Sarney no Estado, o ex-aliado, a quem Sarney considerava um filho, o governador Reinaldo Tavares, rompeu com a família e passou a arquitetar a derrota do ex-padrinho político no estado, fato que tornou-se realidade, tirando os Sarney do governo do Maranhão pela primeira vez em 40 anos. Tavares atingiu seus objetivos e ajudou a eleger Jackson Lago para o governo. No calor da disputa política, o grupo ligado a Sarney fez uma denúncia contra Reinaldo Tavares no Ministério Público, acusando-o de irregularidades na contratação da empresa Gautamo para a construção de pontes no Maranhão. Os aliados de Sarney só se esqueceram, que a Gautamo foi para o Estado pelas mãos de Sarney. Por ironia do destino, a polícia federal investigou a denúncia do grupo de Sarney e acabou fazendo a Operação Navalha e prendendo o ex-governador Reinaldo Tavares, mas pegou um outro peixe grande, chamado pelo jornalista do Estadão, Gabriel Manzano Filho, de “curinga do clã Sarney”. Trata-se do Ministro Silas Rondeau, cuja carreira pública esta profundamente ligada à Sarney. A Operação Navalha está cortando na carne de Sarney, já enfraquecida por outros acontecimentos.
No Maranhão Sarney está fora do poder. No seu quintal político, o Amapá, Sarney quase não consegue a reeleição, disputando com uma desconhecida novata na política, Cristina Almeida. Aqui também Sarney cometeu erros, foi dele a mão invisível que cassou o mandato do senador João Capiberibe e da deputada Janete Capiberibe, únicos representantes do Amapá no congresso a fazerem oposição ao ex-presidente, que apesar de muito pouco fazer pelo estado sempre soube fazer muita propaganda do pouco que fazia.
Durante 16 anos muitas promessas de pontes, asfalto na BR-156, Zona Franca e tantas outras. Mas o aeroporto de Macapá transformou-se no grande feito, um ícone da União entre Sarney, o governador Waldez(Operação Antídoto) e o prefeito João Henrique(Operação Pororoca). A Operação Navalha acabou trazendo a tona um problema sério, diretamente ligado ao senador Sarney, que é autor da emenda de construção do aeroporto. O Tribunal de Contas da União em auditoria detectou problemas sérios de direcionamento na contratação da empresa Gautama, que faz parte do consórcio Gautama-Better, responsável pelas obras do aeroporto. Agora é aguardar para ver se a água, que já está no pescoço do velho senador, vai continuar subindo. Mas já é certo que o futuro do clã político está seriamente ameaçado. A tendência é que a rede de domínio diminua cada vez mais, para o bem do Brasil, que agora está vendo que tipo de domínio essa rede exerce.


Adaptado do Folha do Amapa

Um comentário:

Anônimo disse...

Passando pra te desejar uma boa páscoa.

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